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A nossa Marcha Gualteriana 2022

Um desfile que é uma escola de arte popular. E de vida! Que não deveria desfilar numa (só) noite. Mas ser apreciado, até ao final do ano, num Museu da Marcha.

06 agosto 2022 > 00:00

Esperamos, todos os anos, pelo dia do nosso aniversário. Aguardamos, todas as semanas, pela chegada do fim de semana. Idealizamos, todos os dias, pela hora de chegar a casa. Sempre desejei que chegasse a noite da Marcha Gualteriana, o número mítico que encerra as Festas da Cidade de Guimarães e que, todos os anos, me faz adiar as férias de verão “para depois da Marcha”! É assim desde que me conheço. E assim sempre será.

Como espetador ou como aprendiz de obreiro, onde me estreei com 14 anos, acompanhando o meu Pai nos trabalhos preparativos aos sábados à tarde, a Marcha Gualteriana faz parte do culto e do manual bairrista de gerações de vimaranenses. A azáfama, o empenho e o entusiasmo são os mesmos de sempre dos briosos obreiros que, anualmente, colocam nas ruas de Guimarães a imaginação, o engenho, a arte e o nosso bairrismo. Na verdade, o que alimenta a vontade de muitos vimaranenses é uma poção mágica, também chamada “Amor à Terra”.

São incansáveis e geniais voluntários que se afeiçoam a uma causa e que trabalham sem horas numa verdadeira escola de ofícios, com uma dedicação e emoção que não se explica. São homens e mulheres que fazem de tudo, desde idealizar, materializar, montar, pintar, decorar, eletrificar. São dezenas de obreiros, com um espírito de missão que os caracteriza e que nos orgulha de uma tradição secular da nossa cidade que, em 2022, regressa no seu formato original, depois de dois anos de evocação simbólica devido à pandemia.

No interior do casarão da Marcha, resiste-se! Sempre. Aqui, é uma autêntica escola de arte popular, onde se ensina o ofício de manejar tesouras, tubos de cola, serras e martelos, com destreza e criatividade. É ainda aqui que se aprende a improvisar com madeira, ferro, pratas, tintas e esferovite (muito). A Casa da Marcha, como os vimaranenses a conhecem, é também uma escola de vida, onde se aprende a dar valor ao trabalho, à camaradagem, ao genuíno sentido da amizade e da solidariedade.

Mas o desfile da Marcha não é só carros alegóricos. Os números vivos, que intercalam cada setor, concedem ao cortejo a singularidade que o distingue. É um momento de apoteose, antes de se aproximar um novo carro alegórico. Pode ser uma pausa musical ou um apontamento humorístico onde a sátira afiada e mordaz conquistam o público – que não agradece só com aplausos enquanto a Marcha passa! Muito antes do desfile, às primeiras horas do dia, já reservou e marcou os melhores lugares nas ruas e passeios por onde, à noite, vai passar…

Impressiona tanto ver desfilar a Marcha Gualteriana quanto assistir à sua preparação e montagem. Trabalha-se arduamente durante quatro/cinco meses consecutivos pelo encanto de duas/três horas! Só uma chuva torrencial poderia (mesmo) evitar a saída da Marcha. O que, este ano, não será o caso! O número mais emblemático das Festas é, por isso, o momento mais aguardado das Gualterianas que, este ano, promete redobrado brilho e encanto no reencontro dos vimaranenses com a sua Marcha.

É o ano do centenário do Vitória, que terá um carro alusivo à efeméride, antes do Carro Balonas, o último do cortejo, que lembrará os 10 anos da Capital Europeia da Cultura. É, ainda, o ano em que a Europa entrou em guerra, o que levou os obreiros a dedicarem um carro à Ucrânia, o quarto do desfile. À frente, o Carro Cidade, este ano com o Jardim do Carmo e o Lar de Santa Estefânia como plano de destaque, abrem a Marcha Gualteriana 2022.

Segue-se a evocação dos 100 anos da primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, com o Carro Gago Coutinho, cujo nome Guimarães eternizou num proeminente penedo nas imediações do Santuário da Penha. O Carro Criança é dedicado à jovem Mulan, a primeira e única das princesas da Disney, com descendência asiática. O desfile da Marcha completa-se com os 25 anos da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho, com o “Carro Património Minhoto” e com o “Carro Ambiente”.

Guimarães vai gostar muito de ver os carros que estão a ser preparados com pormenores notáveis, que nos identificam e onde nos revemos em cada detalhe, com um rigor e perfeição que vão embelezar as nossas ruas, deliciar quem nos visita nesta época do ano e que, uma vez mais, vão resgatar os nossos mais sonoros aplausos…

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