skipToMain

“Cada visita é diferente”: Guimarães tem quinta pedagógica que “não para”

O grande portão de ferro separa o mundo real do imaginário. Na Quinta das Manas, em Polvoreira, cinco hectares albergam mais de 80 espécies animais, onde a pequenada – e não só – deambula.

29 outubro 2022 > 08:00

No limite entre os concelhos de Guimarães e Vizela, há um espaço que proporciona experiências. Com sede fiscal em Polvoreira, mas grande parte da área em Infias, Quinta Pedagógica das Manas é o nome deste local que nasceu em maio de 2008, anualmente calcorreado pelos pequenos pés de milhares de crianças. Ao entrar no portão que divide a quinta do resto do mundo, dão um passo, ao som da concertina, para um par de horas diferentes do habitual.

Um “safari” de trator, mais de duas centenas de animais de 80 espécies diferentes para apreciar, jogos, museus, atividades lúdicas e até uma discoteca são algumas das atividades disponíveis na Quinta das Manas. “Uma escola entra aqui e fica o dia todo connosco. Só para visitar os animais, e alimentá-los, é preciso no mínimo hora e meia”, diz Luís Machado, o proprietário do espaço. Comprou a quinta numa “oportunidade de negócio”, quando ia a hasta pública. “Não tinha nada a ver com o que é hoje”, recorda, nem tão pouco foi adquirida com a intenção de se criar uma quinta pedagógica nos moldes atuais.

“Quando me falaram numa quinta pedagógica até perguntei o que era. Na altura era uma novidade”, conta. Viu quintas pedagógicas fora de Portugal, nomeadamente na Bélgica e em França, e gostou do “conceito”. “Proximidade e contacto direto” é, então, o que procura há 14 anos. E, assim, junta centenas de crianças por dia.

As visitas de escolas são o forte, mas é também é possível organizar festas de aniversário, de empresas, e simples visitas. Luís Machado não tem parado. Obras – pequenos reparos e novas construções – são uma constante nos cinco hectares. E, para lá dos animais, atrativos inegáveis, focam-se no conceito. “Não queremos massificar isto. Queremos, sim, que as escolas tenham vontade de voltar, não pela vertente económica – que é necessária – mas porque estamos a fazer as coisas bem”.

 

“É mais importante o conceito do que massificar”

Peça chave para o funcionamento da Quinta das Manas na construção deste conceito, para além da vontade do proprietário, é Marcela Fernandes, chefe das monitoras e responsável pela conceção de muitas das experiências que se vivem neste espaço. “O objetivo não é só criar uma atividade lúdica, mas sim fazer jus à questão da pedagogia”, defende. Está no projeto há seis anos, tempo suficiente para o abraçar como seu.

Acredita, tal como Luís Machado, que “é mais importante o conceito do que massificar”; a vertente pedagógica está intrinsecamente ligada ao projeto, mesmo estando em equação passar de quinta pedagógica a parque, até porque a oferta existente na Quinta das Manas vai muito para lá da de quinta pedagógica.

“Não queremos fazer um display de animais; criamos atividades que apoiem e que se enquadrem nos programas educativos. Aqui podem ver o que é folha caduca ou persistente, por exemplo”, atira a monitora antes de mais uma subida ao portão para receber novo grupo de crianças. No trator, outro grupo já está de braços no ar e sorrisos rasgados para iniciar o safari.

A diferença deste espaço para outros do género, acredita, é a interação criada. “Temos a componente educativa, sempre, e não uma visita guiada”. E esta componente traça a principal característica da Quinta das Manas: “Cada visita é uma visita”, diz Marcela com um sorriso. “Vir aqui na Primavera não é o mesmo que vir no Outono. Tentamos recriar a desfolhada, a vindima e outras atividades típicas, em que as crianças participam”, sublinha a monitora, enumerando mais uma faceta recente: teatro educativo.

“Uma personagem vem explicar aos meninos os eventos agrícolas”. “Temos o cuidado de fazer uma auscultação das necessidades das escolas, até porque receber um grupo de pré-primária é diferente de receber um grupo de 1.º ciclo e nós tanto recebemos estas crianças como recebemos uma cerci”, remata.

 

“Um parque radical por cima dos animais”, “turismo rural” e outros sonhos num projeto que não para… e até pode chegar de comboio 

Neste sentido multifacetado, Luís complementa o raciocínio de Marcela. “Temos escolas que nos visitam várias vezes num ano – temos preços para essas situações – e temos atividades de exterior e também para dias de chuva”. Recentemente esteve na Quinta das Manas uma escola de Aveiro, mas chegam de muitas mais localidades: Porto, Braga, Viana do Castelo, Felgueiras, Ponte de Lima, Póvoa de Varzim.

“É fazer um raio de 50 quilómetros aqui à volta e temos a malta que nos visita”, atesta Luís Machado. O proprietário, e gerente do espaço, admite que passou mal na pandemia, com 200 animais para alimentar, mas olha para o futuro com um sorriso. “Este ano estamos a bater recordes, não pensei que fosse ter este crescimento”, suspira. Um crescimento que se faz a meias com outra característica deste espaço: está em constante mutação, não só no que concerne ao espaço físico – “tentamos ter uma política ecológica de reaproveitamento de materiais” – quer na própria forma de acrescentar novas experiências à experiência de quem vista a Quinta das Manas.

O objetivo de Luís Machado é “cimentar e solidificar o projeto”: “Quero continuar a ser diferenciador, já fui a vários espaços e o que aqui é diferenciador”. Depois, para além deste objetivo há sonhos; uns mais difíceis de alcançar do que outros e alguns até já a ganhar forma. “Tenho um sonho, mas envolve muito dinheiro, que é montar um parque radical por cima dos animais. Mas vai ser feito”, determina.

Mas, há mais. A Quinta das Manas está apetrechada, quando um novo conceito estiver concebido, para ser um local de turismo rural e até se pensa no transporte a utilizar. “Duas escolas já experimentaram e gostei da ideia: já falei com a CP para que possam vir de comboio – é muito mais barato –, chegam a Covas ou a Vizela e depois vêm para cá. Depois, e já falei também sobre isso, gostava de ter um autocarro panorâmico que levasse as pessoas à estação e, pelo meio, davam uma volta pela cidade”, destaca Luís.

“A cidade tem problemas de fixação de turistas, esta pode ser uma solução”, destaca com amargo de boca face à falta de apoios que sente a nível autárquico. Ainda assim, a Quinta Pedagógica das Manas não para. Está a nascer um parque de obstáculos, para “Jogos sem Fronteiras”, há mais animais na forja, um projeto com abelhas, e até os bombos e caixas, ali próximos, nas Carvalhas, têm espaço para fazer ressoar as Nicolinas. 

Tópicos

Subscreva a newsletter Jornal de Guimarães

Fique a par de todas as novidades
Podcast Podcast
Episódio mais recente: Guimarães em Debate #83
Stop