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Casa de Tras os Montes e Alto Douro de Guimaraes

No centro histórico, há um recanto transmontano que vive, há 50 anos, de literatura e pintura, de festas, de paixões. Agora recebe ensaios de teatro, mas é precisa juventude para manter o legado.

24 agosto 2022 > 10:00

Há cinco décadas foi criada a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Guimarães, para agregar transmontanos. Seguiram-se períodos de vigor, com uma programação diversificada, mas a falta de renovação dos associados e frequentadores do espaço tem posto a coletividade em causa. Joaquim Coutinho está na presidência há 20 anos, admite que o cenário de fechar portas esteve em cima da mesa, mas a ajuda da Câmara Municipal de Guimarães e da União de Freguesias da Cidade foi determinante para dar um novo impulso à associação

 

A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro celebrou recentemente 50 anos. Com que sentimento foi assinalado esse marco, sempre importante em qualquer instituição?

A comemoração dos 50 anos desta coletividade foi para nós, sócios e amigos, uma etapa que quase já não pensávamos atingir. Atravessámos recentemente, com a pandemia e outras situações, uma fase bastante difícil. Não pensávamos chegar aqui. A realidade é que isto esteve mesmo para encerrar. Em contacto com a Câmara Municipal de Guimarães e com a União de Freguesias da Cidade, foi-nos dada a ajuda que nos permitiu celebrar esta data, muito importante. Cinquenta anos é, de facto, uma etapa muito importante. Os sócios que ainda sobrevivem desde a fundação da coletividade sentiram-se felizes, assim como os restantes sócios.

 

Quantos associados tem a coletividade?

Nesta altura, a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Guimarães tem poucos associados. Temos cerca de 80. Mas já teve muitos mais. Chegámos a ter mais de 300 sócios. Esta coletividade já teve épocas de bastante dinamismo, com muita frequentação por partes dos sócios. À medida que os sócios fundadores desapareceram, não houve juventude atraída para isto. Não tem havido renovação. A juventude quer outras coisas. Precisamos de gente nova e de renovar o espírito da coletividade. Os sócios que fundaram a casa foram desaparecendo, e a renovação tem sido difícil. Mas com estes incentivos da Câmara e da Junta estamos apostados em lançar uma campanha de angariação de novos sócios, que possa dar uma vida nova a esta coletividade.

 

A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Guimarães é restrita a transmontanos?

Quando a coletividade foi fundada, e nessa altura foram feitos os estatutos, só eram admitidos sócios transmontanos. Mas, pouco tempo depois, meia dúzia de anos, chegámos à conclusão de que não era este o caminho. Alterámos os estatutos de forma a ser permitido admitir sócios que não sejam transmontanos, nomeadamente vimaranenses, as pessoas com quem convivíamos e convivemos diariamente, e até de outras zonas; chegámos a ter sócios alentejanos. Abrimos também a hipótese de integrar na direção sócios vimaranenses; por exemplo, neste momento temos alguns vimaranenses na direção. Não podem é ser presidente da direção e da assembleia geral e vice-presidentes da direção.

 

Quais têm sido as principais atividades da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro?

Já tivemos um pouco de tudo. Já tivemos uma equipa de futebol de salão. A nível recreativo, festejávamos todas as festas do ano: o Carnaval, Santos Populares, São Martinho – vários bailes – e, dentro destes bailes, o maior era o de fim de ano. Juntávamos aqui muita gente, fazíamos festas muito bonitas. Agora ultimamente a coisa tem andado um pouco mais em baixo, mas, como disse, queremos voltar a recuperar a situação e a vitalidade da coletividade. Para além disso, fizemos aqui exposições de pintura, exposições de produtos transmontanos, lançamentos de livros quando faleceu Miguel Torga, que é transmontano, fizemos-lhe aqui uma homenagem. Diariamente frequentam a nossa sede várias pessoas, que se entretêm aqui com jogos tradicionais.

 

Qual é o grande desafio para o futuro?

O grande desafio é, sem dúvida, dar vida à coletividade. Não diria voltar ao tempo em que teve uma forte atividade, mas dar mais vida à coletividade, voltar a realizar as nossas festas, os nossos passeios a Trás-os-Montes. É o que se pretende, e só se consegue com sangue novo, com sócios novos. Aproveito a oportunidade aos transmontanos residentes em Guimarães, e não só, também aos vimaranenses que queiram ser sócios, estamos apostados em fazer coisas novas e algumas dessas iniciativas até já estão a ser implementadas.

 

Que iniciativas são essas?

Já estamos a fazer coisas novas, estamos a colaborar com vários grupos, como a Associação Guimarães Fado. O grupo de teatro Cem Cenas Associação Cultural vem cá ensaiar no nosso espaço, assim como o Guimarães Fado também ensaia cá. Temos também cá uma professora de dança. Pretendemos estar mais abertos à sociedade e a este tipo de parcerias. Tudo no sentido de permitir que haja iniciativas culturais aqui na coletividade. Como disse anteriormente, o grande objetivo que temos é lançar uma campanha de angariação de novos sócios, para que a associação tenha suporte e se possa renovar com gente nova.

 

Numa casa em que se arranjaram casamentos, procura-se sangue novo

Joaquim Coutinho é natural de Peso da Régua, transmontano, portanto, e preside à Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro há sensivelmente duas décadas. Com 75 anos, admite que quando assumiu os destinos da coletividade não esperava ficar tanto tempo na presidência, mas a força das contingências tem levado a que permaneça no cargo.

Radicado em Guimarães há seis décadas, desde os seus quinze anos, mesmo antes da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Guimarães ter sido fundada, é sócio desde 1974, desde que regressou do serviço militar. “Tenho amor por esta coletividade. Sempre dei, e continuo a dar, tudo aquilo que posso à Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro”, destaca.

Já frequentava a coletividade mesmo antes de casar, com a então namorada, e viu os filhos crescer por lá, numa história que é comum a várias outras famílias. “Sempre gostei desta coletividade, sou sócio desde 1974, logo que regressei do serviço militar, andei aqui com a minha esposa enquanto namorados, os meus filhos andaram cá enquanto pequeninos. E esta história repete-se noutros sócios. Até se fizeram casamentos de pessoas que se conheceram aqui”, aponta Joaquim Coutinho.

São precisos, agora, novos cupidos para dar seguimento à história da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro. É preciso sangue novo para dar continuidade à coletividade. “Precisamos de gente nova, de juventude. O tal sangue novo para fazer uma renovação. Sempre tive um grande amor a esta coletividade, não só como transmontano, mas como sócio e dirigente”, refere.

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