CERCIGUI, um berço de campeões
A CERCIGUI tem no desporto adaptado um dos pilares da instituição e uma das respostas mais eficazes para a integração e o bem-estar da comunidade que acolhe.

O desporto adaptado é fruto do século XX. Começou por ser dirigido às pessoas portadoras de deficiências auditivas e visuais e, a meio do século, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, ganhou um novo ímpeto. Em Guimarães, os primeiros registos do desporto adaptado remontam aos anos de 1990. Na reta final da década, a 30 de abril de 1997, com o intuito de criar condições adequadas para o exercício físico pelas pessoas com deficiência, um grupo de colaboradores da CERCIGUI – Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades de Guimarães, instituição fundada 20 anos antes, criou o Clube Desportivo da CERCIGUI.
Hoje a instituição caminha ao lado de alguns dos maiores estandartes do desporto vimaranense: com o GUIMAGYM para a prática da ginástica; com o Xico Andebol para o futsal e o andebol; e com o Vitória SC para o judo. No entender de Clara Paredes Castro, diretora-geral da instituição, é desta forma que se cumpre a verdadeira missão de integração: “O facto de estarmos a recorrer à comunidade tem um impacto muito forte não só na nossa instituição, mas também na comunidade em si”, diz ao Tempo de Jogo. De um lado há “uma grande redução de custos” e do outro é potenciada “a responsabilidade social” dos clubes.
O primeiro triunfo antecede qualquer medalha. Quando começa a prática do exercício físico, os benefícios mais notórios não se revelam apenas no plano físico, “mas também na parte relacional e emocional". "O desporto tem a capacidade de lhes oferecer a concentração, o cumprimento de regras e as questões comportamentais”, nota. A diretora-geral usa-se do judo como exemplo: é uma modalidade em que o cumprimento de rotinas é fundamental. Portanto, aprender “as formas de entrar, de se vestir, de se comportar numa competição, de perceber os momentos de vitória e derrota” é extremamente enriquecedor. No entanto, engana-se quem pensa que não há espírito competitivo nestes atletas. A vontade de ganhar não é menor e vencer dá-lhes “a perceção de que o esforço deles é reconhecido”. “Isso é importante pela forma como eles se encaram e se integram na sociedade”, salienta. Nélson Silva e Susana Daniela são dois dos atletas mais medalhados e, sempre que expandem o palmarés, “os outros que não atingem o triunfo ficam felizes e orgulhosos por quem consegue, partilhando esse feito entre eles”, diz Clara.
O impacto da pandemia foi “muito forte” para a CERCIGUI, e as dinâmicas previamente estabelecidas alteraram-se. Se antes “quase não ficavam parados” e a competição era “praticamente semanal”, a covid-19 obrigou os atletas da CERCIGUI a confinar e a abrandar o ritmo. No entanto, sendo a inovação um dos pilares para o futuro da instituição, rapidamente se tratou de arranjar soluções e o entusiasmo com as aulas de judo regressou à distância. Para o futuro, Clara Paredes Castro quer “consolidar ainda mais este tipo de parcerias” e "aumentar o leque de modalidades integradas no projeto". O cenário é "viável", porque Guimarães é olhado "como exemplo" e "as suas estruturas estão devidamente adaptadas e preparadas para receber pessoas com problemas de deficiência e mobilidade reduzida”.