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Dos “grupos de curiosos” a Santos Simões, Guimarães é enredo com surpresas

Com conclusão prevista para 2023, a viagem de Inês Lago pela história do teatro vimaranense já se deparou com um projeto para um teatro nacional de 1836 e com as memórias do Teatro D. Afonso Henriques

01 agosto 2022 > 10:30

Quando decidiu aventurar-se pela história do teatro em Guimarães, Inês Lago esperava “um trabalho relativamente leve”, com ênfase no período que vai do início do século XX ao 25 de Abril. “Pensei que só iríamos chegar a um sítio significativo com a chegada de Santos Simões”, admite ao Jornal de Guimarães acerca do professor que, em 1959, fundou o Teatro de Ensaio Raul Brandão (TERB), entre outras intervenções no tecido cultural vimaranense.

Pelo que indiciam os dados até agora recolhidos, não é assim. Ao abrigo do projeto “A História do Teatro em Guimarães, dos tempos de Gil Vicente aos dias de hoje”, financiado pelo IMPACTA, regulamen\o da Câmara Municipal para apoio à cultura, a atriz e investigadora deparou-se com referências aos “grupos de curiosos” desde o século XVII, em associação ao culto a São Nicolau, e com a existência de casas públicas de espetáculos desde pelo menos 1769. Depois vem o século XIX, a “quantidade de informação” cresce com “atas muito mais fáceis de se encontrarem” e a “surpresa” entra em cena.

Após a vitória liberal na Guerra Civil, a Sociedade Patriótica Vimaranense discutiu e aprovou, em janeiro de 1836, um projeto de instalação de um Teatro Nacional em Guimarães, que, segundo Inês Lago, é “bem acolhida pela rainha D. Maria II”, mas acaba por não ter sequência no recém-criado Parlamento; a proposta antecede a materialização da ideia de Teatro Nacional mais tarde nesse ano, em portaria do Governo de Passos Manuel. 

“Obviamente que a ideia estaria a circular. Estas ideias liberais vêm do mesmo caldeirão, que foi Coimbra. Estas ideias não nasceram sozinhas. Mas a nossa proposta é anterior à formação do Teatro Nacional como ideia cultural e como edifício”, esclarece a atriz e encenadora, licenciada em antropologia e mestre em Filosofia Estética pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Ainda nesse ano, surge o Conservatório Geral de Arte Dramática, que “forma e dá trabalho” a muitos atores, facilitando a disseminação do teatro, nota Inês Lago. Sem o ambicionado Teatro Nacional, a cidade vê abrir, em 1855, o Teatro D. Afonso Henriques, espaço que acolheu mais de 200 representações na primeira década, a maioria de obras de Eugène Scribe, dramaturgo francês muito popular à época, pela Companhia Nacional ou pela Companhia Nacional do Real Teatro de São João, o que lhe permitia escapar ao rótulo das excursões à província.

“Nesta ideia de descentralização das artes, podemos até dizer que Guimarães nunca precisou que as descentralizassem. (…) Ao investigar dados de cidades como Aveiro e Coimbra, Guimarães fez mesmo parte da história do teatro em Portugal. Não foi só ponto de passagem”, realça.

 

Pensar um centro de estudos

Perante as surpresas do século XIX, a conclusão da base de dados sobre o teatro em Guimarães até 1950 tornou-se um “berbicacho” que precisa de resolução, antes de avançar para a fase mais contemporânea da história. “A minha preocupação é terminar esta base de dados, que implica grupos profissionais, grupos amadores, atores, espetáculos representados. É preciso confirmar a real importância do que estamos a falar, com estatísticas que não me deixem cair em esparrelas”, avisa.

À espera de finalizar a base de dados nos “próximos meses”, para concluir o projeto em 2023, Inês Lago acredita que a investigação em curso pode ser alicerce para outros estudos sobre teatro em Guimarães. A acontecer, podem até enquadrar-se num futuro centro de estudos para o teatro, sugere, indo ao encontro do que Santos Simões e Francisca Abreu idealizaram – o então designado Centro de Estudos Vicentinos.

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