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“É um choque térmico”: é a Orquestra de Guimarães (e o jazz) a “criar públicos”

O Guimarães Jazz leva novamente a palco a Orquestra de Guimarães, desta vez com o Niels Klein Trio. É o “rigor” e a criação em tempo real em fusão e uma orquestra a aproximar-se dos vimaranenses.

17 novembro 2021 > 10:30

A Igreja de São Francisco pode ser um bom sítio para “criar um público melómano”. Tem sido esse um dos desígnios da Orquestra de Guimarães com a direção artística de Vítor Matos – por isso, ver o templo franciscano repleto de pessoas para assistir a um concerto da “orquestra de todos os vimaranenses” nos primeiros dias de novembro deixou os músicos “orgulhosos”. “Começamos a perceber que as pessoas procuram cada vez mais a orquestra, procuram ouvir o que toca”, explica o maestro. E essa procura também se deve à programação inovadora e abrangente que apresenta.

E o que pode ser mais desafiante do que explorar as vias criativas causadas pelo cruzamento de instrumentistas com formação clássica e improvisadores de jazz? Quando o diretor artístico do Guimarães Jazz, Ivo Martins, lançou o repto para mais uma parceria entre Orquestra e festival a resposta só podia ser uma. “Aceitamos de muito bom grado. Até para sair da nossa zona de conforto. É um desafio muito grande para a própria Orquestra”, explica Vítor Matos.

“A nossa formação é trabalhar o reportório erudito e ir para uma linguagem diferente é um desafio enorme: outros sons, outras técnicas. Há uma camada de sons que se aglomeram e nós, músicos eruditos, por vezes não estamos tão familiarizados com esta escrita musical – que muitas vezes não é escrita, é pura improvisação”, resume o maestro. A justaposição de experiências e géneros musicais este ano acontece com a formação vimaranense a atuar em acompanhamento do Niels Klein Trio, um grupo de músicos alemães da nova geração europeia do jazz. A fusão de géneros sobe ao palco do Centro Cultural Vila Flor na quarta-feira, 17 de novembro.

Será outro maestro a dirigir o concerto, mas Vítor Matos reforça que se trata de uma oportunidade única de tornar a “Orquestra mais eclética, dinâmica, aberta a outros tipos de projetos”. E como confluir o rigor da música erudita e a criação em tempo real jazzística? “É quase um choque térmico”, exemplifica o maestro. Haverá quase que uma descodificação em cima do palco: o trio “tem na improvisação a sua preponderância, a nível criativo é mais fascinante, mas obriga a orquestra a estar mais atenta”. E a chave está em que, superada esta barreira “linguística”, “tudo comece a fluir de forma natural – e não artificial”. “A criação vem daí, na minha opinião”, acrescenta.

 

Uma cidade a abraçar uma Orquestra

Para Vítor Matos, a cidade é o pano de fundo ideal para “aventuras” como aquela que a formação vimaranense vai levar para palco no dia 17: “Guimarães cativa os artistas a produzir. Está no caminho certo”. Com um panorama cultural “muito vivo”, a Orquestra pode ser uma “ferramenta importantíssima” para “criar públicos” e aproximar a música dos vimaranenses. Que têm uma oportunidade, “através de uma ferramenta” como a Orquestra – “um concelho com uma orquestra é de grande valia, é como ter uma companhia de teatro”, pauta –, de ouvir “programas diferentes”. E assim se criam “melómanos”. O maestro densifica: “Gostamos de tocar para pessoas que gostam de música, mesmo não sabendo notas. Temos der ser nós, músicos, a criar esse público e não assustar as pessoas dos lugares de concerto”.

E se o resultado da última residência artística for prova de alguma coisa é que o público é recetivo ao que a Orquestra de Guimarães apresenta. O concerto com a participação do solista Alessandro Carbonare realizado na Igreja de S. Francisco esgotou. O jazz é a próxima aventura da Orquestra e os vimaranenses estão “todos convidados”.

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