É "urgente" aumentar a oferta residencial universitária em Guimarães
Procura suplanta a oferta de alojamento universitário, levando à subida de preços. Um bairro tradicional está a tornar-se zona académica e a solução pode estar no privado, mas só dentro de dois anos.

Todos os anos o cenário repete-se. Fim de setembro, início de outubro, junto ao polo de Azurém da Universidade do Minho, a azáfama é uma constante em busca de um lugar para ficar. Estudantes universitários, muitos deles pela primeira vez no nosso concelho, procuram as residências universitárias, os apartamentos tipo estúdio ou os quartos. A oferta está mais ou menos estabelecida e é substancialmente inferior à procura. São cerca de sete mil os alunos que normalmente frequentam o Campus de Azurém; um milhar de caras novas chega a cada ano.
Organizado em três blocos, o Complexo Residencial de Azurém tem capacidade de oferta para 420 estudantes, sendo fácil de se perceber que existe um défice de quartos. Mesmo antes do início do ano letivo a residência já estava com uma taxa de ocupação próxima da capacidade máxima, segundo Rui Oliveira, presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM). Um panorama que leva a que seja inevitável a conclusão que “o alojamento estudantil é uma preocupação que acompanha o ensino superior há muito tempo”.
"O número de camas estagnou desde 1998, ano da última residência a ser construída na Universidade do Minho", Rui Oliveira, presidente da AAUM
Tirada a primeira ilação dos números, passa-se para a segunda: sendo a procura superior à oferta, os preços tendem a aumentar. Uma ideia também ela corroborada por Rui Oliveira, vimaranense que preside à associação estudantil da academia minhota. “Todos os anos, com a chegada dos novos alunos, a procura pelo alojamento intensifica-se e muitas vezes não é possível dar a melhor resposta face à pouca oferta e grande procura, o que se reproduz num aumento significativo dos valores que cada estudante acaba por ter de suportar com o alojamento. Ainda antes do início do ano letivo as residências universitárias estavam praticamente lotadas, o que reforça esta necessidade do aumento de camas urgentemente”, sublinha em declarações ao Jornal de Guimarães.
Um quarto poderá representar, em média, um custo entre 150 e 250 euros por mês, variando consoante a localização e os extras que oferece, como internet e até o número de banhos toleráveis por semana. A escalada dos preços “pode resultar no abandono escolar sendo que Rui Oliveira vinca a necessidade de “reverter este panorama”, com “soluções que não fiquem apenas no saco das promessas”.
Um bairro tradicional que se está a tornar uma residência universitária
“O número de camas estagnou desde 1998”, já lá vão mais de duas décadas, desde a “última residência universitária a ser construída na Universidade do Minho”, em contraste com o aumento de número de cursos e de vagas. Já várias soluções estiveram em cima da mesa, mas nunca se avançou para qualquer reestruturação de espaços existentes. Ciente desta problemática a AAUM tem tentado fazer o seu papel: “Encaminhamos os estudantes para as residências universitárias e oferecemos uma solução para quem procura quartos particulares, através de uma parceira imobiliária”.
Por isso, sem surpresas, o recurso à oferta de quartos é uma realidade. O crescimento imobiliário nos últimos anos em redor do campus também não está dissociado desta procura em específico. Até um bairro tradicional, a meia dúzia de passos da universidade, tem transformado a sua essência para ser também ele uma resposta a este problema. “O que não faltam aqui são universitários”, diz a Dona Adelaide, da Tasca do Rato.
Olha o Bairro Pimenta Machado em perspetiva a partir da quota inferior, na qual tem o estabelecimento. “O bairro está a ficar com muitos velhinhos: se formos a ver, tirando aqui as casas mais baixinhas da frente, a maioria deve estar arrendada a malta da universidade. Alunos, mas não só. Também professores, pessoas que vêm cá fazer trabalhos, e investigações”, sugere Adelaide, apontando em várias direções, de forma a provar que efetivamente são mais as casas arrendadas a estudantes do que propriamente as restantes. Há até uma casa, ao centro, que foi reformulada e ampliada, sendo hoje conhecida como a residência.
“Há muita gente aqui a bater à porta, a perguntar e a pedir informações sobre casas para arrendar. O porquê da procura eu não sei, mas deve ser por ser sossegado, porque isto é calmo e ao mesmo é perto de tudo. Aqui não se gasta dinheiro em autocarro, por exemplo. É um saltinho para se chegar ao centro. Sem as gerações mais antigas, os filhos aproveitam as casas, porque não precisam para alugar a estudantes e a gente da universidade, até a professores. Neste momento, o bairro tem muita procura”, explica a Dona Adelaide.
Uma ideia defendida também por José de Castro Antunes, presidente da Junta de Freguesia de Azurém, que destaca que “os jovens gostam de conceitos familiares, de se sentir em casa. E em Azurém estão em casa”. Os argumentos para explicar esta tendência são similares aos de Adelaide. “Conforto, proximidade com a Universidade do Minho e a qualidade de vida que Azurém oferece. A nossa freguesia é dinâmica, tem vida própria, e, por essa razão, vai crescendo e vai ganhando contornos específicos”, aponta.
“Referência mundial” promete revolucionar oferta em 2023
Para ajudar a solucionar este problema, a Câmara Municipal de Guimarães anunciou no final de 2020 um projeto inovador que, foi apresentado como uma “referência mundial”. A intenção de transformar uma antiga unidade industrial num complexo especificamente pensado para estudantes promete revolucionar o diferencial entre oferta e procura.
“Está para muito breve o início da obra”, aponta José de Castro Antunes. Inicialmente, tendo o arranque previsto para a primavera deste ano, serão disponibilizadas mais de seis centenas camas, num investimento privado de 15 milhões de euros. “Trata-se de um projeto pioneiro de residências universitárias, que terá um prazo de execução de 18 meses, o que significa que a obra será inaugurada em 2023. Este novo investimento, que pretende responder à procura cada vez maior de residência de jovens universitários, consiste na transformação total de uma unidade empresarial em residência universitária. Um projeto de referência mundial, que estará à distância de 650 metros do polo de Azurém da Universidade do Minho”, indica.
Uma obra de nomeada que, para além dos quartos, oferecerá no mesmo espaço um conjunto de valências como “zonas de estudo e de convívio, refeitório, salas de televisão, cinema e gaming, ginásio, lavandaria”, entre outras comodidades. “De acordo com o CEO da empresa “CRM Students”, entidade que gere 29.500 mil camas na Europa, o projeto de Azurém é o melhor que conheceu na sua já longa experiência”, elucida José de Castro Antunes.
Em cima da mesa está também uma candidatura ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a construção de uma nova residência na Escola de Santa Luzia, com capacidade para sensivelmente 350 camas. Para Rui Oliveira este é o projeto “mais urgente de concretizar”, na medida em que “é importante encontrar respostas a preços sociais e que possibilitem uma situação de conforto e experiências sociais essenciais para o crescimento pessoal dos alunos”.
Enquanto estes projetos não saem da gaveta, a rotina mantém-se e continuam a ser espalhados anúncios pela zona da Quintã e um pouco em redor de todo o campus. “Aluga-se quarto a estudantes” ou “aluga-se T1” continuam a ser as mensagens que proliferam.