Em Guimarães há muito o bichinho… por abelhas
No mundo, e tal como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura alertou, está a ocorrer uma diminuição de colmeias a um ritmo alarmante. Em Guimarães, o problema é o oposto.

As abelhas são importantes. Há cada vez uma maior preocupação com elas, ou não fossem responsáveis por 80% da polinização da nossa flora. No entanto, tende-se a pensar que quando se fala em agentes polinizadores a referência é dirigida somente a esse inseto, o que é um erro. Na verdade, o próprio Einstein poderá ter errado quando atirou que, caso as abelhas desaparecessem do
mundo, a vida acabaria em quatro anos. Tiago Moreira, técnico apícola da associação de Apicultores do
Cávado e do Ave (APICAVE), diz não saber se seria realmente assim, mas caso deixassem de existir polinizadores, “obviamente que sim”. Há polinizadores e polinizadores. E são vários os conjuntos destes agentes, como aves, caso da felosa-comum ou da toutinegra-de-barrete-preto, répteis como a lagartixa-da-madeira, roedores ou outros insetos como a borboleta-do-medronheiro, jaquetões e por aí em diante.
Segundo Tiago Moreira e Carlos Cunha, um apicultor da região, a apicultura sofreu um boom muito grande nos últimos anos. Em parte, porque é visto como um hobby não muito caro, porque, como diz Carlos,
“tirando equipamentos de manutenção", são "cerca de 35 euros por ano, que facilmente, num ano bom de mel e pólen, pagam a despesa que se tem”. “Toda a gente anda preocupada e acho muito bem, mas às vezes confundimos abelhas com polinizadores e o problema mundial existente é um declínio muito grande dos polinizadores”, alerta o técnico da APICAVE.
Quando se pensa na primeira ameaça, o dedo é apontado à vespa que desembarcou pela primeira vez em Portugal no ano de 2011, em Viana do Castelo, e que se tem vindo a alastrar pelo país. As
espécies invasoras, como a vespa asiática, são uma das causas, mas não só. As grandes ameaças estão
também na agricultura intensiva, com o uso dos agroquímicos ou as alterações da utilização dos solos, nas alterações da forma de vida das pessoas, com a construção de edifícios e com toda a poluição
envolvida ou mesmo as alterações climáticas.
Carlos Cunha refere que o clima, mais do que a vespa asiática, pode prejudicar muito a produção de mel, porque com chuva as abelhas não saem das colmeias, vão alimentar-se do que já produziram e não vão produzir nada. “Este ano produzi um bocadinho nas primeiras semanas de março, depois abrandou um bocado pela chuva e depois veio mais um bocadinho. Se não produzissem logo no início, este ano seria muito mau a nível de mel”, aponta.
Mais colmeias do que o território suporta
Num ano, é comum produzir entre 15 e 20 quilos de mel por colmeia. O setor tem recebido apoios do Estado, mas, segundo a APICAVE, os últimos anos têm sido críticos em termos de produções. O erro que o técnico admite acontecer em Guimarães, no que diz respeito à produção de mel, é que no espaço de 10 anos os apicultores da região terão triplicado o número de colmeias. Como consequência, num panorama geral, as médias de produção não pagam os custos. “Temos zonas em que temos claramente quatro ou cinco vezes mais colmeias do que a zona suporta, então, no fundo, o que andamos a fazer é a manter colmeias. Temos de racionalizar e temos de perceber que temos um limite, porque as abelhas alimentam-se do que a floração dá. E em Guimarães temos zonas com muita pressão, e fica complicado produzir mel porque basicamente mantemos as colmeias vivas, mas na hora de produzir toneladas, não conseguimos produzir”, explica o profissional.
A polinização é fundamental para a conservação da biodiversidade do meio natural, tal como também é muito importante para as culturas agrícolas de que a sociedade depende. Tiago Moreira dá o exemplo de que em Guimarães existe muita produção de kiwi, para a qual o papel da abelha é muito importante. Os produtores recorrem muitas vezes a apicultores para colocar colmeias nos terrenos para fazer a polinização. Em estados norte-americanos como a Califórnia, de agricultura muito intensiva, pagam cerca de 100 dólares por colmeia para prestarem um serviço de três semanas para haver polinização – estes agrónomos estão completamente dependentes da ação das abelhas para haver produção. Felizmente, Portugal ainda não está nessa fase, diz.