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Giliano e a (re)encarnação de Tyroliro: “Tinha aquela vontade de fazer algo sozinho”

A viagem pelos Utter e pelos Paraguaii conduziu-o a um lugar onde queria ser ele a definir as composições. A memória do avô materno levou-o à escrita em português e à vitória no Termómetro.

19 maio 2022 > 09:00

A guitarra, o baixo e os sintetizadores são os fiéis companheiros de Giliano Boucinha numa vida que é mais do que composição e performance. Desde 2007, com a aventura dos Utter, o músico de Joane, com “atividade cultural baseada em Guimarães”, tem harmonizado os timbres da criação, da produção e da promoção de eventos. A certo ponto, todavia, emergiu “a vontade de fazer algo sozinho”.

Lançado o segundo disco dos Paraguaii, Dream about the things you never do (2017), a inquietação agigantou-se até se transformar nas composições de Tyroliro, um projeto que se expressa como fusão de “eletrónica, dance, pimba clássico, grupos corais e pop rock psicadélico”, vencedor da 26.ª edição do Termómetro, festival para “bandas emergentes” que já acolheu os Ornatos Violeta, Capicua ou David Fonseca. “O meu grande objetivo era participar. Ir à final melhor ainda; já era uma vitória. Mas ganhar tem outro sabor. No momento em que disseram o nome Tyroliro, fiquei um bocado emocionado”, confessa ao Jornal de Guimarães.

Acompanhado por Igor Gonçalves, na bateria, e Miss Morgana, na dança, Giliano acolheu a consagração com alguma “surpresa”, depois de um percurso sucessivamente “adiado pela pandemia”, que começou na eliminatória em Aveiro, em dezembro de 2021. Ultrapassado o desafio, Tyroliro concorreu, na final de 08 de maio, com Synik, Evaya, Smoke hills e MEMA, tendo apresentado quatro temas: “Quero é só fumaça”, “Na minha cama com os cães” e “Lágrimas” do EP Tu és brute (2020), bem como “Vinho litro”, tema inédito de Javali, disco a lançar neste ano. “Não tenho a certeza se vai ser antes ou depois do verão”, confessa.

Os títulos denunciam uma incursão pela língua portuguesa, desconhecida de Giliano Boucinha até 2020. O inglês “soava muito parecido” ao que já fizera com Utter, Paraguaii e Captain Boy – neste último, como produtor – e a língua-mãe, acrescida de “maneirismos rudes” e “palavras mais ou menos agressivas”, foi um dos atalhos para “não ser igual” ao que já fora. “Queria alguma coisa que me autossatisfizesse”, vinca. “Gosto muito do abstrato, e as letras têm algum enquadramento nesse sentido. Comecei a cantar e senti-me feliz. Transponho o meu lado português nas músicas”.

O lado português e não só; também a memória do avô materno, Joaquim Rodrigues, o “tiroliro” em São Martinho de Leitões. “Era a alcunha do meu avô, uma pessoa muito alegre, festiva e bastante ébria ao longo da sua vida. Já faleceu, mas viveu uma vida feliz, à sua maneira. Admiro isso nele. É uma certa homenagem”, conta.

O universo pessoal firmou o tão ambicionado projeto a solo de Giliano Boucinha. O passo seguinte é desenvolver uma “estratégia para aproveitar o hype” do Termómetro e das consequentes atuações no Alive, em julho, e no Bons Sons, em agosto, com “o novo disco na calha”. “Quero fazer o melhor para o projeto e para chegar mais às pessoas”, assume.

 

“Em Guimarães, tudo é mais fácil de fazer”

Quando olha ao percurso pela música e compara os trabalhos de criação, produção e de organização de eventos, Giliano Boucinha aponta, sem dúvidas, o “que mais gosta de fazer”: “Ser músico, compor, gravar e tocar ao vivo. É o que mais me satisfaz”, frisa.

Mas o autor é também um dos rostos da Elephante MUSIK, promotora a cargo da Missa do Galo, um evento de Natal, e do L’Agosto, um festival de verão. Palco de ambos, Guimarães é uma urbe onde as “boas ideias” têm sido “utilizadas”, sobretudo a partir de 2014, com “o boom de bandas” de então. “Há uma série de bandas que saíram daqui para mostrar que a cultura está viva (…). Em Guimarães, acaba por ser tudo mais fácil de fazer”, vinca.

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