Jorge Nascimento da Silva: “Temos um papel social que nos diz muito”
Prestes a completar 20 anos, OsMusiké tem-se dedicado à cultura, levando-a a crianças e a idosos, aos auditórios, a igrejas e até à cadeia, com atividades da música ao teatro, passando pela poesia.

Prestes a completar duas décadas de existência, OsMusiké tem-se dedicado à cultura, levando-a a crianças e a idosos, aos auditórios, a igrejas e até à cadeia. Com atividades da música ao teatro, passando pela poesia e, mais recentemente, pelas publicações dos seis cadernos, o fundador e presidente Jorge Nascimento Silva promete continuar a dinamizar o território de mão dada com as artes.
É um dos fundadores de OsMusiké, continua como presidente. Como é que tudo começou?
Pode-se dizer que sou o fundador. Era diretor do Centro de Formação Francisco de Holanda e OsMusiké nasceu numa ação de formação no Centro. Arranjei um formador no âmbito da música, Óscar Ribeiro, e criámos uma primeira turma, que se dedicava a construir poemas musicados para depois transmitir nos jardins de infância. Foi um projeto muito interessante. Depois o grupo foi crescendo, muito às custas das reisadas, quando se juntavam ali 30 a 40 professores. Portanto, OsMusiké nasceu no seio de professores, e o grupo foi crescendo. Pouco tempo depois, gravámos um CD para crianças.
Em termos discográficos temos um bom reportório: o primeiro foi para crianças, um produto do centro; depois saiu o Cantar Guimarães, em 2006, que reúne músicas cujos temas são da cidade. Já um pouco depois surge OsMusiké – Os Nossos Reis, com reis que íamos cantando à nossa maneira. Mais tarde saiu um outro, OsMusiké – Gentes de Guimarães. Esta instituição nasceu da música. Não sei grande coisa de música, mas foi o que aconteceu, nascemos da música.
Mas não se ficaram pela música. Veio também o teatro…
O teatro chega em 2008. A Emília Ribeiro e a Madalena, professoras, foram ao meu gabinete depois de se reformarem aos 52 anos. Queriam fazer coisas, queriam fazer teatro. Foram-se juntando pessoas e ainda há pouco tempo estiveram a comemorar o Dia da Criança, em Brito, com uma peça.
Poder-se-á dizer, então, que OsMusiké é uma coletividade multifacetada?
Somos um pouco de tudo, OsMusiké é uma associação musical, artística e cultural. Estamos ao serviço da comunidade. Muito da cidade, mas também do concelho. Já visitámos todas as escolas; em todas fizemos teatro, cantámos. Visitámos os lares todos da cidade, a cadeia por várias vezes. Já cantámos e atuámos em igrejas. Já cantámos no Pavilhão Multiusos cheio de idosos e também cheio de crianças, por exemplo. Já cantámos no Auditório da Universidade do Minho várias vezes com 600 crianças. Já lotámos o Vila Flor num espetáculo de gala. Já lotámos o Mit Penha. Já estivemos na Ribeira de Couros, mas também nos lugares mais simples. Procuramos chegar a todos os lados, vamos com frequência aos Cuidados Continuados, por exemplo, um local em que é preciso música e alegria.
Têm, na vossa atividade, também um papel social…?
Temos um papel social que nos diz muito. Temos feito um trabalho com outras associações e instituições, o que me parece interessante, até cedemos as nossas instalações para que outros grupos possam ensaiar lá. Se temos um espaço, mesmo não sendo o ideal, mas sendo aceitável, é melhor tê-lo ocupado. E depois tentámos ir onde OsMusiké pode dar o seu contributo para ajudar a melhorar ou a fazer algo de benéfico.
Já falámos das áreas de atuação, falta ainda a poesia. Têm também dedicado tempo à poesia…
Temos também algumas coisas engraçadas ao nível de reviver a poesia. Procuramos até incluir no nosso espetáculo alguma poesia. O trabalho que nos tem dado mais gozo, e mais trabalho, tem sido o Sons de Outono. Vamos para o quarto, a 28 de outubro no Teatro Jordão, e a ideia é a inclusão. O que me dá mais gozo é esse trabalho em equipa, colaborativo. Fazer com que todos possam acreditar nas suas potencialidades.
Guimarães está sempre presente em tudo o que fazem, depreende-se do discurso. É assim?
Guimarães está no centro da nossa existência. Cabe sempre nas nossas atividades. Cantamos a cidade, os monumentos, as ruas, as praças. Mas, cantamos, sobretudo as gentes. Tudo o que é sobre Guimarães cabe na nossa atuação. Referimo-nos à cidade, claro, mas também ao concelho, uma vez que percorremos o concelho. Como já disse, já fomos a todas as escolas.
Pode-se dizer que a música, a poesia e o teatro são o centro da nossa atividade, mas ao longo destes vinte anos fomos abraçando outras iniciativas, e outros projetos, como por exemplo ‘Os Afonsinhos’, em que tentámos criar um doce conventual como forma de marcar a presença na Feira Afonsina. É um doce que tem estatuto próprio; ainda há pouco tempo paguei mais de 200 euros para manter a marca por mais dez anos.
Também temos muitas visitas culturais, que agora não temos feito, devido à pandemia. Mas é uma situação a explorar novamente, porque fizemos várias visitas à cidade, à descoberta dos vários recantos.
Completam vinte anos este ano, uma data redonda. Como é que a vão assinalar?
Este ano é o ano do nosso 20.º aniversário e temos várias atividades programadas. Estamos no terreno para dinamizar a atividade 20 anos 20 atividades, mas já estamos a fazer mais para além disso. Vamos ter 20 atividades principais, mas depois temos muitas mais. Já começámos, teremos o nosso almoço em setembro, e temos várias atividades programadas, como disse.
Da pandemia vieram as publicações: OsMusiké Cadernos não param de crescer
A mais recente aventura de OsMusiké, abraçada com a pandemia instalada, passou da vertente mais artística para as publicações, através dos OsMusiké Cadernos. O primeiro conta um pouco da história da associação, compilando vários contributos numa espécie de plataforma colaborativa pensada inicialmente para um livro digital, mas que acabou por ser editado em suporte físico.
A ideia agradou e a realidade é que, num espaço de dois anos, estão três cadernos cá fora. O quarto já está a ser finalizado, “em velocidade de cruzeiro”, e até já há alinhamento para o quinto.
Depois do segundo Cadernos, com o tema ‘Abril e Liberdade’, o mais recente trabalho OsMusiké Cadernos 3 centra-se na temática dos 20 anos da classificação do Centro Histórico de Guimarães como Património Mundial. O lançamento do quarto volume está agendada para as 10h00 de 10 de dezembro de 2022 – um sábado –, às 10 horas no Teatro Jordão, em que se assinala o décimo aniversário de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012.
“Em pouco tempo, dois anos, ficam quatro cadernos à disposição, trabalhos de muito valor com textos de muitas pessoas conhecedoras. Mais lá para a frente, o seu valor ainda será maior, dado o legado de conhecimento que deixam”, aponta Jorge do Nascimento Silva.
O entusiasmo em redor desta iniciativa tem sido gradual, assim como o volume que de cada caderno. O primeiro começou com 254 páginas, o terceiro já teve 607. “Para o ano, estaremos a comemorar dez anos de Cidade Europeia do Desporto. Esse será o tema central. Já tenho um alinhamento, uma estrutura temática. A nossa luta é fazer algo menos volumoso do que o que está a sair, temos muita informação e uma equipa muito ligada à causa que faz com que as coisas saiam a uma velocidade estonteante”, atira.
Para além de Jorge do Nascimento Silva, a equipa é composta por mais quatro elementos que organizam as publicações: Álvaro Nunes, Agostinho Ferreira, Silva Pereira e ainda Salgado Almeida, vocacionado para as artes e ilustração.