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Márcio e André levantaram um clube do chão – e assim se muda uma freguesia

O GD Souto e Gondomar cresceu embalado pelo "sacrifício" de dois amigos - que jogam e dirigem o clube. Já não há madrugadas para marcar o campo, fica o "orgulho" de ver uma freguesia a unir-se.

20 fevereiro 2023 > 16:40

“Tudo isto foi por amor ao futebol”. Por "isto", Márcio Neves refere-se ao Grupo Desportivo de Souto e Gondomar. E o “amor” estende-se a uma freguesia que precisava de vida. Esta é a história de uma coletividade que quer atar um território disperso; é também o reconto de como dois amigos e jogadores pegaram nas rédeas de um clube e, sem repelões, o levantaram do chão. Mas não é o retábulo definitivo: o emblema nasceu há cinco anos e o propósito de colocar a freguesia a norte do concelho “no mapa desportivo” é missão contínua.

Márcio Neves e André Ribeiro são jogadores e dirigentes. “Filhos da terra”, depararam-se com um território com poucas respostas: juntava-se a falta de associativismo à extinção progressiva dos clubes desportivos – Sport Clube Estrelas Vermelhas, Sport Clube Gondomar e Atlético Clube de Souto foram e deixaram de ser. Foi no terreno deste último que Márcio e André começaram a tarefa “difícil” de fundar uma casa.

Nascia, em 2016, o Grupo Desportivo de Souto e Gondomar. Márcio Neves contextualiza: “Estava nos Emilianos, decidi vir para aqui, era um clube que estava a treinar na minha terra e arrisquei. Fui-me entranhando no clube, até que a direção foi-se embora e fiquei sozinho a gerir o clube. O André apareceu e a partir daí o resto é historia”.

 

 

Coube aos dois ultrapassar barreiras que se foram erguendo – a direção anterior levou todo o material e deixou “alguns jovens que gostavam de jogar à bola”, pontua André. Seguiu-se o diálogo com a junta de freguesia, chegou-se a um entendimento: ambos criavam um clube, mantinham-no no futebol popular e a freguesia ganhava um emblema. “Nós aceitámos, como é óbvio. Foi um bocado difícil ao início porque não tínhamos noção nenhuma do que era gerir um clube, nenhuma”, resume André.

E se no início o objetivo era só um - jogar à bola – a razão de ser do clube foi mudando. “Quando assumimos as rédeas do clube nunca foi a pensar que podia tomar esta dimensão, nunca”, explica André Ribeiro. Ambos falam em pleno campo sintético inaugurado recentemente – sintomático do crescimento da coletividade e revelador “do potencial” da localidade. “A gente desta terra é muito unida, as pessoas gostam de que se fale da terra, e estamos a tentar que as pessoas se unam ao clube e que se revejam nele”.

O GD Souto e Gondomar pode funcionar também como um instrumento para afastar fantasmas que surgiram com a junção das três freguesias em 2013. Para André, é uma “oportunidade”, um chamamento para a “inclusão” e para “acabar com a separação e rivalidade das freguesias”.

 

 

Bons vizinhos

“Com o passar dos tempos, as coisas foram tomando outras dimensões, foram-se juntando pessoas mais influentes”, que empurraram o clube para um campeonato federado. Em parte, foram as pessoas que chegaram que dissuadiram Márcio de desistir. “Estava a ficar esgotado. É difícil para duas pessoas. Continua a ser, somos poucos. Antes, éramos nós os dois a tratar de tudo”, enquadra.

Para além das burocracias, a “preocupação dos dias de jogo” era uma constante. “Vínhamos na sexta-feira à noite passar o campo”, diz André. “Tínhamos uma carrinha que ajunta emprestava, os vizinhos passavam-se, era muito pó”, junta, em tom jocoso, o amigo.

“Tínhamos de ligar ao presidente da junta, atávamos uma grade com ferros e engenhocas ao carro, andávamos devagar – se andasse de força, saltava. No sábado de manhã vínhamos mais cedo, limpávamos os balneários, marcávamos o campo, e depois ainda tínhamos de jogar. Chegava ali aos 70 minutos já não aguentávamos das pernas, andávamos desde as 8 da manhã, a tentar organizar o jogo”, salienta André.

Pequenos “sacrifícios”, como apelida Márcio, que se foram amontando para edificar uma coletividade que enche de orgulho quem a viu nascer: tempo, dores de cabeça, andar porta a porta a recolher “gestos” que fizeram a diferença. Márcio e André lutam pelo emblema fora e dentro do campo. Os tempos são outros. Se o recinto e tudo o que envolve o Souto e Gondomar “deixa orgulho e dá vontade de fazer mais”, dentro do campo, os amigos já não têm de ser substituídos aos 70 minutos. “Agora, só quanto estivermos destronados e cansados é que deixamos”.

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