Novos cursos da Escola de Engenharia da Universidade do Minho
O campus de Azurém recebe licenciaturas em Engenharia Aeroespacial e Ciência de Dados, setores em voga, enquanto se espera pelo Arquinho, espaço para aulas práticas e investigação aeroespacial.

O perfil do engenheiro aeroespacial “ainda não é muito abundante” em Portugal, território que tem “evoluído significativamente” nos últimos 10 anos, com várias empresas a florescerem no ramo, como a Stratosphere, parte de um consórcio para trazer materiais recolhidos em Marte daqui a sensivelmente uma década. Gustavo Dias lidera essa sociedade anónima instalada no Avepark, mas também a licenciatura em Engenharia Aeroespacial, um dos dois cursos lançados pela Universidade do Minho (UMinho) para o ano letivo de 2022/23.
Até agora, só o Instituto Superior Técnico, em Lisboa, a Universidade da Beira Interior, na Covilhã, e a Universidade de Aveiro formavam engenheiros para o setor, num período em que a “necessidade de formar profissionais” é cada vez “maior”. A verdade é que as 30 vagas ao abrigo do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior foram preenchidas com a classificação mínima mais elevada entre os 61 cursos da UMinho (18,62) e o aluno com melhor média de todos os colocados – Pedro Araújo, com 19,98 valores.
Sediada em Guimarães, a licenciatura reúne conhecimento acerca do “setor tradicional da mecânica” - aerodinâmica, mecânica de voo, estruturas, materiais, controle e estabilidade -, de “materiais avançados”, de “sistemas de comando e controle”, ligados à engenharia eletrónica, e sistemas de diagnóstico e prognóstico, ligados às engenharias informática e de software.
Cumprido o percurso formativo, o engenheiro deve estar preparado para trabalhar no setor da aviação comercial, que “perdeu velocidade com a pandemia”, mas “continua a desenvolver e a fabricar aviões”, no setor da defesa ou no setor do espaço, que está “em franca evolução”. “Com satélites praticamente lançados todos os dias, é preciso tratar toda a informação gerada, útil para proteção dos incêndios, na proteção marítima, na gestão do território”, detalha o investigador do Departamento de Engenharia de Polímeros há cerca de 20 anos.
Ao comparar um engenheiro aeroespacial com especialistas de outros ramos da engenharia, Gustavo Dias vê-o como um “orquestrador de todas as componentes da engenharia” necessárias ao “desenvolvimento de qualquer coisa que voe ou que vá para o espaço”. “As aeronaves e os sistemas espaciais têm muita complexidade”, sublinha.

“Queremos que o Arquinho esteja sempre cheio de gente”
Os dois primeiros anos da licenciatura, sobretudo teóricos, com unidades de matemática e de física, serão integralmente lecionados no campus de Azurém, mas o cenário do terceiro ano já deve ser outro: o do Arquinho, antiga fábrica têxtil para o qual já abriu o concurso público para o projeto de arquitetura.
Também destinado ao futuro mestrado, o imóvel precisa de estar requalificado daqui a dois anos, com laboratórios especializados para os alunos experimentarem e “desenvolverem as suas teses”, esclarece o diretor do curso.
A cedência daquele edifício à Universidade do Minho é uma hipótese que se começou a desenhar a 14 de outubro de 2019, 12 dias depois de Pedro Arezes ter assumido a presidência da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (EEUM); o seminário com o Instituto de Tecnologia Aeronáutica, do Brasil, lançou “a semente para o curso” e o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, notificou a escola de que “havia um espaço no centro da cidade para efeitos de investigação e ciência”.
A procura por um novo sítio derivava da escassez de área para laboratórios em Azurém. “A configuração da fábrica do Arquinho, e a sua própria volumetria adequava-se ao que queríamos. Esse conjugar de vontades foi importante”, frisa o responsável pela EEUM. Após o seminário, fixou-se um horizonte de quatro a cinco anos para se lançar o curso, mas o processo acelerou, pelo que é “urgente avançar o mais rapidamente possível” com a requalificação do Arquinho, acrescenta o docente do Departamento de Produção e Sistemas.
Ainda que reconheça eventuais “problemas logísticos” na interligação entre Azurém e o Arquinho, Pedro Arezes vê no futuro edifício uma oportunidade para uma plataforma – o designado hub - que reúna estudantes de licenciatura e de mestrado, mas também investigadores do setor aeroespacial. “O Arquinho terá auditórios, open space para pessoas trabalharem lá e investigarem. Queremos que esteja sempre cheio de gente”, projeta.
E o contexto urbano, cada vez “mais atrativo” para “as novas gerações”, pode enriquecer a experiência de trabalho, crê. “Em vez de estarem longe das cidades num sítio com muito espaço, ficam num contexto onde depois fazem a sua vida, tomam um café, passeiam no centro, enfim fazem a vida normal”, perspetiva.

Ciência de Dados: “Já deveríamos ter entrado nesta área há dois ou três anos”
Pedro Arezes está igualmente atento ao potencial da Ciência de Dados, nova licenciatura da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), desenvolvida em parceria com a Escola de Engenharia. Além de “colher dados” através de “sensorização”, um especialista na área deve também identificar onde recolher esses dados e criar ferramentas para os obter, extraindo depois os “importantes” a partir de “massas enormes” de informação, projeta.
As 31 vagas para o primeiro ano letivo foram preenchidas com uma classificação mínima de 14,2 valores, e o diretor do curso, Manuel Santos, vê o “suporte à tomada de decisão” como a principal mais-valia de uma área de formação que combina estatística, engenharia de dados, programação, sistemas de informação e inteligência artificial.
“Queremos licenciados capazes de extraírem conhecimento a partir de dados. Há partes comuns noutros cursos, mas não estão conjugadas para este perfil”, realça, antes de dar um exemplo: “Um aluno de engenharia informática ou de estatística pode ser um cientista de dados? Eu diria que sim, mas vai ter de se complementar com algumas formações”, crê o investigador do Departamento de Sistemas da Informação, pertencente à EEUM.
Um dos casos que atesta a procura por cientistas de dados, acrescenta o docente, é o da Farfetch, empresa de comércio e de marketing fundada no Minho, que está a edificar o novo centro de dados em Londres devido à falta de profissionais do ramo em Portugal. Mas o apoio à decisão é também procurado em setores como o dos automóveis autónomos, no qual a UMinho tem parceria com a Bosch, e o da medicina, extraindo-se “padrões de diagnóstico”.
O curso surge então como “tentativa de se colmatar um vazio”, algo que já deveria ter sido feito há “mais tempo”. “Já deveríamos ter entrado nesta área há dois ou três anos. Outras universidades. É uma área com um crescimento quase exponencial”.