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O traço da Arte na Paisagem eterniza-se na pedra

As gravações num aglomerado de penedos na encosta da Penha são o legado palpável de uma iniciativa reuniu o humano, a imaginação e a natureza de 13 de março a 10 de abril.

23 abril 2022 > 08:45

A “vontade de intervir” no afloramento vizinho do cemitério municipal de Monchique “não foi imediata”, mas acabou por emergir nas reflexões de Pedro Bastos.  Ainda pensou numas “marcas muito grandes”, “garrafais” até, mas a compreensão de que o ser humano não está na Terra para “explorar a paisagem de forma agressiva” levou-o a uma criação que é “exatamente o oposto” do caráter heroico exalado pelo Monumento aos Aviadores, de José Luís de Pina, a partir do topo da Penha.

Exercício de “contenção”, as inscrições nesses penedos são aquilo que se perpetua para lá da Arte na Paisagem, projeto que imiscuiu as obras de quatro artistas ligados a Guimarães - Nuno Machado, Manuel da Fonseca e Engrácia Cardoso, para além de Pedro Bastos – e a encosta do monte de Santa Catarina, ao longo de um trilho de 11 quilómetros.

Nas seis caminhadas guiadas, entre 13 de março e 10 de abril, ou em passeios autónomos, os cidadãos puderam apreciar o trabalho artístico cravado no aglomerado de pedras. Mas só se o quisessem mesmo “encontrar”. “As coisas não estão visíveis e percetíveis. É preciso procurar”, descreve Pedro Bastos ao Jornal de Guimarães

Distribuídos em sequência pelas pedras, os vocábulos “pedra”, “redonda”, “chuva”, cortados pelo ponto de interrogação, reúnem-se num “teatro de coisas escondidas” que evoca a “relação ancestral” entre humano e rochedo, detendo-se no porquê de aquilo ali estar. “O meu trabalho pergunta o que é uma pedra, o porquê de que ela ser redonda e o que é que a arredonda. A própria obra chama-se É um penedo. É uma constatação”, descreve.

O artista sugere até que as inscrições, ali encaixadas como um “jogo”, transparecem uma reflexão de matriz filosófica e científica, mas também a própria odisseia existencial do ser-se humano. “No fundo, é uma espécie de jogo para marcar a nossa existência. Interroga-se sobre o porquê da nossa vontade em deixar marcas?”, resume.

 

Criação garantida em aliança com a natureza

O que se vê agora é fruto de um trabalho congeminado em março de 2021, retardado pela pandemia. Em colaboração com Pedro Silva, Nuno Machado desenhou uma proposta que aliava desporto, natureza e arte e candidatou-a ao Garantir Cultura, programa estatal criado na sequência da pandemia.

Como o apoio à criação artística exigia a colaboração de uma associação, Nuno contactou a ERDAL, que se revelou “muito interessada” no projeto. “Já tinham o contacto com a natureza, com as caminhadas, mas a arte era algo que não tinham. A partir daí, fizemos a candidatura, aprovada, e começámos a trabalhar no evento”, explica.

Identificados os trechos da rota da biodiversidade e dos percursos pedestres da Penha a incluir no trilho, a associação e os artistas decidiram onde criar as instalações que viriam a ser inauguradas a 13 de março.

“As obras foram sempre pensadas para funcionarem em vários sítios”, esclarece Nuno Machado. “O Pedro e o Manuel trabalharam a zona nas imediações do cemitério de Monchique, que está deteriorada. Agora estão a plantar lá algumas árvores. Quiseram intervir aí, para tentar alterar a paisagem com objetos artísticos”.

Não só a arte na pedra esteve à vista de quem se aventurou pelo trilho; saltaram também aos olhos esculturas e tecidos criados a várias cores e formas. Cada um dos passeios acolheu dezenas de visitantes. No total, foram centenas os que experimentaram Arte na Paisagem, estima um dos ideólogos do projeto.

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