Peditório pela freguesia, ferro da Lixa: assim nasceu o campo do Ponte
Anfiteatro é uma rubrica do Tempo de Jogo que apresenta os recintos desportivos vimaranenses. Em Ponte, a freguesia ajudou a erguer aquele que ainda hoje é o recinto do Clube Desportivo de Ponte.
O Campo Dr. João Afonso de Almeida é, desde o final da década de oitenta do século passado, a casa do Clube Desportivo de Ponte, um dos clubes da Vila de Ponte. Refundada em 1986, a coletividade precisava de um campo de jogos e a primeira direção teve de pôr mãos à obra para o conseguir.
A partir daí foi uma aventura. O terreno que se proporcionou adquirir tem vista para o rio Ave, na Rua Monte do Rio, e custou 3200 contos, sensivelmente 15.400 euros. “Fui o primeiro presidente da nova era do Ponte. Juntamente com a direção comprámos o terreno onde ainda hoje o clube está estabelecido”, contou José Teixeira, sócio número um do clube e primeiro presidente.
O pelado foi o possível, com a ajuda da empresa Rodrigues e Camacho. “Fez a terraplanagem do campo e deu-nos quatro anos para pagar”, recorda José Teixeira, que relembra também a história que acabou por dar o nome ao campo.
Terreno de 3 mil contos obrigou a fazer peditório
O tal terreno onde hoje vigora o campo do Ponte custou 3200 contos. A memória não falha, apesar da distância temporal. O Dr. João Afonso de Almeida era o proprietário, ficando estabelecido pagar 300 contos de renda de três em três meses, sendo necessária uma entrada de quinhentos contos.
Vista aérea do campo do Ponte.
“Facilitou muito o pagamento, pudemos pagar em três ou quatro anos”, diz o primeiro presidente. “Para pagar os quinhentos contos de entrada fizemos um peditório pela freguesia”, dá nota, explicando que juntamente com a sua equipa foi necessário palmilhar as ruas da freguesia para que todos se pudessem imbuir no projeto.
Foi durante este processo de pagamento que surgiu o nome que hoje batiza o campo. José Teixeira explica: “Chama-se Parque Desportivo Dr. João Afonso de Almeida porque quando íamos pagar uma das prestações, penso que a terceira, não tínhamos dinheiro para pagar. Como presidente fui falar com o genro do senhor João Afonso de Almeida, que era ele que tratava das coisas, propondo dar o nome do campo em troca dessa prestação. Ele riu-se, ficou de falar com a família, mas depois chamou-me e ficou assim definido: a prestação ficou paga e demos o nome ao campo”.
Balneário de madeira com folhas de eucalipto a tapar
Tratadas as burocracias, o terreno foi então terraplanado para que pudesse ficar com o aspeto de um campo de futebol. O pelado, o que havia naquela altura, fez as delícias das primeiras equipas do Clube Desportivo de Ponte.
Havia, contudo, outra necessidade: as balizas. “Um amigo da Lixa deu-nos o ferro, veio da Liz, um outro amigo trabalhou esse mesmo ferro, fez as adaptações necessárias, e fizeram-se umas balizas para começar a jogar”.
Fotos da panorâmica do Parque de Jogos Dr. João Afonso de Almeida. Em cima uma imagem do início dos anos 90; em baixo a mesma panorâmica na atualidade.
Para que tudo se conjugasse para o início da competição, numa primeira época no futebol popular, eram necessários balneários. Isso também se arranjou. A equipa deu nas vistas no primeiro ano, no segundo federou-se e lá se construiu um “balneário de madeira e tapado com folhas de eucalipto no segundo ano”.
Ainda hoje o campo do Ponte mantém o traçado com que foi edificado, ainda que fosse ganhando novas valências. É o caso da bancada no início dos anos 90 e também dos balneários, que acabaram melhorados. De resto, o Parque de Jogos Dr. João Afonso de Almeida foi sendo mimado, sempre que possível, por dirigentes e amantes do clube.
Em 1998 a bancada foi coberta por um grupo de quatro amigos: Filipe Oliveira, atual presidente do clube, Filipe Gonçalves, atual secretário, e ainda António Ribeiro e João Paulo levaram a cabo a missão de cobrir a bancada. “Erámos quatro sócios, não fazíamos parte da direção, falámos com o presidente da altura para poder, em nome do Ponte, pedir apoios para conseguirmos cobrir a bancada”, aponta Filipe Oliveira.
Campo do CD Ponte atualmente num jogo da época que findou.
Dois sintéticos e uma zona que se transfigurou
Depois de uma nova paragem na atividade, nomeadamente no futebol sénior, nos últimos anos o CD Ponte voltou em força ao futebol distrital e, com isso, alavancou também as suas infraestruturas.
Em 2013 o CD Ponte reativou o futebol e iniciou-se o processo de colocação do sintético, que viria a ser instalado em 2015. Com o sintético chegaram os novos balneários, no lado oposto aos balneários que sempre existiram.
Primeiro chegou o tão ansiado relvado sintético, seguiram-se os balneários e no ano passado o clube passou a contar com mais um sintético, de Futebol 7. Nos últimos anos a direção do clube procedeu também ao arranjo e intervenção em todo o espaço envolvente do Parque de Jogos Dr. João Afonso de Almeida