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“Queremos pelo menos uma atividade mensal de cariz musical ou teatral”

A recém-empossada dirigente de 24 anos quer aliar a programação regular à celebração de Santo António, razão de ser da coletividade fundada em 1969. Outra prioridade é aumentar o número de sócios.

06 junho 2022 > 10:00

Empossada como presidente a 08 de abril de 2022, Sofia Teixeira, de 24 anos, lidera uma "equipa jovem", que ambiciona uma programação cultural regular, com pelo menos um concerto ou uma peça de teatro em cada mês, para além de manter iniciativas como "O Verão é na Penha". Criada a partir de uma brincadeira na antiga Quinta das Lameiras, a festa de Santo António é, claro, o ex-libris de uma associação com mais de 50 anos.

O Grupo Recreativo e Cultural Cruz de Pedra, em Creixomil, é o protagonista do número 01 do Movimento Perpétuo Associativo.

 

Como é que a Sofia recebeu a sugestão? A experiência prévia na direção foi mais-valia?

Fiquei um bocadinho assustada, porque não é muito fácil uma pessoa de 24 anos assumir uma associação com 53. Mas é um desafio que quis muito aceitar. Creio que eu e a minha equipa vamos ser capazes de trazer novamente aquilo que a pandemia nos tirou. Não usufruímos dos anos anteriores como gostaríamos. Praticamente não tivemos contacto e apenas fomos fazendo uma ou duas iniciativas online. Estamos cheios de coragem para o que vem.

 

A preparação do Santo António está já em marcha?

Tomei posse nem há um mês. Tivemos logo de tratar de tudo para o nosso ex-libris: o Santo António. O objetivo primordial é realizar a festa, única aqui em Guimarães. Estamos com o problema do espaço, porque a zona da Cruz de Pedra está em obras. Tradicionalmente decorre na Meia Laranja [largo junto à Escola Profissional D. Afonso Henriques]. Passámos para a quinta do Costeado, onde realmente funcionou muito bem. A nossa ideia era voltar lá, mas não sei se será possível porque a quinta parece um estaleiro e futuramente vai mesmo entrar em obras. O local ainda está pendente.

 

O que distingue este Santo António?

A festa de Santo António deu origem à nossa associação. Vem de uma história em que roubaram o santo e surgiu pela vontade de um grupo de populares. Tivemos de parar nestes dois anos, mas não podemos voltar a retirar a festa à comunidade.

 

E o que prevê o restante calendário?

Já fizemos o primeiro evento, a celebração do 25 de Abril, pelo Dino Freitas. Juntámos muita gente na Meia Laranja. Outro dos objetivos é ter pelo menos uma atividade mensal de cariz musical ou teatral. Se o tempo o permitir, vamos tentá-lo, ainda que não tenhamos muito espaço por causa das obras aqui à volta. Queremos usar o espaço exterior. Quando não for possível, usamos a sede. A lotação não é muita, mas dá sempre para algumas pessoas. Também muito importante é a parceria com a Irmandade da Penha, mais afincada no verão, com “O verão é na Penha”. É uma forma de levar a comunidade à “praia verde”, como diz o Dino Freitas, para concertos de grupos folclóricos ou de grupos de música tradicional.

 

 

E essas atividades passam por antigos números a recuperar, como o Carnaval, ou por coisas novas?

Esta direção é maioritariamente composta por jovens. Finalmente estamos a rejuvenescer uma associação de tantos anos, mas, ao mesmo tempo, sentimo-nos receosos de não conseguirmos manter a tradição que engrandeceu o GCR Cruz de Pedra. O nosso presidente da Mesa da Assembleia-Geral, Eduardo Novais, acompanhou a associação quase desde o início: precisamos que ele nos diga o que havia, o que não havia e o que era bonito recuperar.

 

Como está a ligação do GCR Cruz de Pedra com a comunidade próxima e até com a cidade? Quando promovem uma atividade, sentem que vão atrair muita gente?

Acredito que sim. Desde a tomada de posse que estamos a ser contactados para se saber se vai haver Santo António. Vamos tentar o máximo de qualidade para que as pessoas venham cá. Nos concertos que fazíamos sob a direção da Kika, aos domingos, tínhamos casa cheia. Mas é muito mais fácil para nós trabalhar com a zona envolvente. Quando passamos para outras zonas de Creixomil, não há tanta gente com a noção do que fazemos. Quando voltarmos aos peditórios para a festa, podemos informar as pessoas de que estamos ativos. Também temos o nosso bar, que acaba por funcionar para as pessoas mais de perto.

 

O peditório é o principal financiamento do Santo António? Também há apoios camarários ou incluem-se no subsídio anual?

O financiamento principal é a barraca das sardinhas, durante a festa. Depois temos o peditório e as ajudas da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia. Depois há patrocinadores, muitos deles já tradicionais. Estamos também à procura de novos. A organização vai ser difícil, porque, nos últimos dois anos, só houve saída de dinheiro. Mas contamos com a ajuda dos creixomilenses e dos patrocinadores. Uma festa de Santo António ronda os 15.000 euros.

 

Quantos sócios tem o GCR Cruz de Pedra. Aumentar é objetivo?

Infelizmente, não temos muitos sócios. Andamos nos 80 a 90. Um dos nossos objetivos é aumentar. Temos uma casa que merece mais associados. Uma das nossas ideias é arranjar parcerias com entidades mais próximas que cativem os jovens e valham algum tipo de desconto, para entradas em concertos ou para a prática de algum desporto. Não temos cariz desportivo, mas podemos associar-nos nesse sentido.

 

 

O fruto de uma “ilegalidade deliciosa”

“A festa de Santo António é que faz criar a associação. Não é a associação que nasce e cria o Santo António”, esclarece Dino Freitas, um dos presidentes do GRC Cruz de Pedra no século XXI. Foi precisamente a 13 de junho de 1969 que a coletividade nasceu, anos depois da peripécia que lhe deu sentido: uns “moços da Cruz de Pedra” foram à quinta das Lameiras e retiraram do nicho um Santo António em pedra. “Não o roubaram. Levaram-no para a Meia Laranja da Cruz de Pedra, fizeram uma fogueira e, no dia seguinte, foram todos à polícia pagar uma multa de 80 escudos e 50 centavos (uma coroa)”, descreve.

Desde a sua fundação, cabe ao GCR Cruz de Pedra organizar a festa, algo para que Dino Freitas nem estava muito virado quando se tornou presidente, há cerca de 15 anos. “O Santo António estava em risco e eu até estava numa de que uma festa popular se faz em qualquer lado”, confessa. Mas teve de “dar a mão à palmatória” quando soube da história. “Isto nasce numa ilegalidade deliciosa”, ressalva.

Os anos passaram-se e a associação cresceu: organizou a primeira peça de teatro em 1971, inaugurou uma biblioteca na sede em 1972 e experimentou, pelo meio, o andebol e o atletismo. Mais tarde, na hora de assumir a coletividade, Dino Freitas pugnou pelo “investimento na cultura” face ao desporto e pela “abertura à cidade e ao concelho” a partir daquele bairro “muito envelhecido”.

Dessa convicção, floresceram os concertos de domingo à tarde - “não há, em Guimarães, artista de música ligeira que não tenha lá ido”, frisa -, e o ciclo “O Verão em Creixomil. O ex-dirigente descreve ainda a parceria com a Irmandade da Penha como um “casamento perfeito” e afirma ter “muita expetativa” quanto ao mandato de Sofia Teixeira, ao leme de uma direção jovem que pode “arrastar outros jovens”.

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