Uma década de polifonia no CIAJG, vértice de um triângulo a crescer
As paredes do CIAJG acolhem uma coleção “geograficamente díspar que nos faz entender quem somos”. Dez anos depois da inauguração, aquele lugar quer fortalecer a ligação ao tecido formativo da região.

As efemérides são “sempre bons momentos para fazer balanços” – retrospetivos ou projetivos. Aproxima-se uma data redonda para o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG). Aquele que era o antigo mercado municipal transformou-se na Plataforma das Artes no início da década anterior e alberga a sucessão de volumes dourados inaugurada a 24 de junho de 2012, ano da Capital Europeia da Cultura.
Encantamento, história e ficção são palavras-chave neste abrigo de uma das coleções permanentes de José de Guimarães e das exposições que tentam com ela dialogar. O desafio passa agora (também) por “acentuar uma ideia de fazer e menos de contemplação”. “É um caminho que queremos trilhar conjuntamente com outros espaços d’A Oficina”, indica ao Jornal de Guimarães a coordenadora artística, Marta Mestre.
A vocação do espaço que tem patente, até a 18 setembro, o ciclo de exposições “Voz Multiplicada” – que dá pistas para o desígnio da programação do CIAJG, que “será sempre uma articulação entre artistas no plano internacional, nacional e que trabalham a partir de Guimarães” – é fortalecer as redes territoriais “com as universidades e escolas”. Essa ligação vê-se no Projeto Triangular, cujos “vértices” são, para além do CIAJG, o Centro para os Assuntos da Arte e Arquitetura (CAAA) e a Escola de Artes Visuais da Universidade do Minho.
Este projeto-piloto quer ligar com menos entropia as estruturas educativas e expositivas da cidade. O objetivo? Potenciar sinergias e o reconhecimento da importância e do valor destas mesmas instituições. No fundo, envolver a comunidade. Marta Mestre fala de um “projeto aliciante” que permite aos alunos da licenciatura descobrirem os espaços expositivos da cidade. “Promove também junto deles uma consciência da possibilidade de habitar e, quem sabe, trabalhar nesses espaços, preparando-os para um contexto de trabalho. O CIAJG deve ter essa função junto da comunidade em que está inserida”, refere.
O museu “nunca pode parar de se inventar”
Sempre com o aspeto pós-colonial da coleção no centro do programa dos dez anos, proclamando a ideia de encontro enquanto ritual – entre artistas e públicos, ou mesmo entre gerações -, o CIAJG continua focado na polifonia, em ser “um espaço que provoca debate, que provoca consciência sobre o nosso passado colonial e o futuro pós-colonial”. “Isso é muito central numa cidade como Guimarães, onde a questão da identidade está muito presente”, atenta a coordenadora artística que assumiu o cargo de curadora-geral em setembro de 2020. A antiga curadora-assistente no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro tinha referido, na apresentação do programa para o primeiro semestre dos dez anos do CIAJG, que uma das missões do centro “pode ser a de criar um arquivo colonial”.
Para mostrar o que se faz num “museu que nunca pode parar de se inventar” e aproximar o que está dentro do edificado das pessoas, Marta Mestre expressa a vontade de realizar “um evento com componente de festival” na praça do antigo mercado. Que chamasse “outras culturas, outros modos de ver e sentir países distante”.
“Seria importante poder ter aqui uma festa, um caráter celebratório, um evento que celebrasse aquilo que o CIAJG acolhe: uma coleção variada, tão geograficamente díspar e que ao mesmo tempo nos faz entender quem somos nessa diversidade”, vinca.
“Em trabalho a todo o gás”
Entender a criação como um ecossistema em perpétuo forjamento é um dos caminhos a trilhar para os próximos dez anos. Com pouco tempo de casa, Marta Mestre ainda não conseguiu uma radiografia completa da relação da instituição com o público vimaranense. Mas garante: “O CIAJG está em trabalho a todo o gás. Estamos a estabelecer elos com a comunidade escolar e universitária, mas também atentos a uma programação que possa ser lida, cultivada por toda a gente”.
O museu já está na Rede Portuguesa de Arte Contemporânea – uma rede de divulgação nacional e internacional dos artistas e criadores portugueses e das diferentes coleções públicas e privadas existentes em Portugal –, um passo importante para fortalecer “relações de vizinhança”.