Uma Páscoa em 49 passos por meia dúzia de séculos
Roteiro que envolve 12 igrejas, os cinco passos da Paixão de Cristo e três museus exibe muita da arte sacra que perdura em Guimarães acerca de uma celebração de referência no catolicismo.

Envolta num manto azul, de olhar piedoso para o próprio regaço, a imagem de Nossa Senhora das Dores está à vista de qualquer olhar atento pela igreja de São Francisco. “É do mesmo escultor de D. Afonso Henriques”, assegura Petro Kasyanchyk em referência a António Soares dos Reis, o autor da estátua de 1887, visível na colina sagrada.
Certo de que havia “mais turismo antes da pandemia”, o cidadão luso-ucraniano, há 20 anos em Guimarães, afirma que as pessoas visitaram o templo católico ao longo da quadra para verem essa peça e também a de Nossa Senhora da Paciência, datada do século XV; trata-se da mais antiga das 49 peças no catálogo do roteiro A paixão em Guimarães, versão 2022.
Criado em 2016, abrangendo nove igrejas, os cinco passos da Paixão visíveis na cidade e três museus, o percurso estende-se, neste ano, a 12 templos, anunciando imagens de Cristo crucificado ou esculturas marianas dos séculos XVIII e XIX, em madeira entalhada e policromada, pinturas em óleo do século XVII ou uma casula do século XX.
Cada um dos espaços pode destacar três das peças do seu espólio, explica a diretora do Museu de Alberto Sampaio. “Há igrejas com riquíssimo espólio e, portanto, não é difícil ir mudando de peças. Há outras em que o espólio é mais limitado e em que, em dois ou três anos, voltamos a repetir. Quem vem visitar num ano, pode não vir no ano a seguir. Estamos a falar de gente de fora de Guimarães”, detalha Isabel Fernandes.
Envolvida na criação do roteiro, em conjunto com José Maria Pedrosa Cardoso, ideólogo do Festival Internacional de Música Religiosa de Guimarães, e com a malograda Noémia Carneiro, antiga provedora da Santa Casa da Misericórdia, a também diretora do Paço dos Duques esclarece que uma exposição propriamente dita era “muito cara”.
“Podíamos era chamar a atenção nesse período para as peças expostas no museu relacionadas com a Paixão”, salienta. Reconhece ainda que 2022 “não será o melhor ano” para receber visitantes, já que o mundo está ainda a “sair da pandemia” de covid-19.